O interesse crescente das pessoas pelas questões ligadas à saúde mental, resultado do expressivo aumento da incidência dos transtornos psiquiátricos na população, se manifesta não só em maior consumo sobre conteúdos psicoeducativos, criação de comunidades em redes sociais, canais e influenciadores digitais especializados, mas também na possibilidades de tratamentos não-alopáticos e utilização de suplementos e práticas alimentares que possam mitigar, tratar ou prevenir o sofrimento psíquico.
O psiquiatra Alexandre Valverde, que também é autista, superdotado e especialista em neurodivergências, comenta sobre alguns nutrientes, alimentos e até mesmo prebióticos e probióticos que podem influenciar diretamente na saúde mental.
iG Delas: Qual a relação entre suplementos alimentares e saúde mental?
Alexandre Valverde : Suplementos alimentares são substâncias como vitaminas, micronutrientes, ácidos graxos, polissacarídeos, que podem ajudar na composição das células neuronais, na composição dos neurotransmissores, que são os hormônios que fazem a comunicação entre os neurônios, e na proteção do estresse oxidativo, do envelhecimento e da morte neuronal. Então a gente pode fazer uma gama de ações em relação ao uso desses suplementos para melhorar cada um desses aspectos.
Quais nutrientes podem influenciar a saúde mental?
Dentre esses nutrientes, por exemplo, para a formação dos neurotransmissores nas vitaminas do complexo B de bola, na vitamina D, nos ácidos graxos, nos ômegas, ômega 3, 6 e 9, que participam da construção da bainha de melina, protege o neurônio, também participam de etapas da formação dos hormônios cerebrais. A gente pode estar falando aqui do magnésio, do cálcio, do potássio, todos esses micronutrientes participam de processos metabólicos neuronais e são importantes. É bom lembrar que esses nutrientes todos, eles estão, e são encontrados, eles estão presentes na nossa alimentação diária, nas frutas, nas verduras, nas castanhas, nos cereais, nos legumes, nas carnes. Então, não necessariamente a gente precisa suplementar isso com artifícios, com complementos ou suplementos industriais. A gente pode encontrá-los na natureza, disponíveis na alimentação.
É indicado o uso de suplementos porque tem problemas de saúde mental?
A gente sempre faz avaliação, dosagem de vitaminas, dosagem de certos micronutrientes, para entender se isso pode contribuir ou não para a questão do quadro psiquiátrico que a pessoa está apresentando. Então, uma diminuição do magnésio, uma diminuição da vitamina B1, da vitamina B6, da B9, da B12, que, por exemplo, no etilismo, ficam sempre reduzidas porque o fator intrínseco que é produzido pelo estômago, que ajuda na absorção dessas vitaminas, ele fica reduzido no etilismo por causa de uma gastrite crônica, por exemplo. Então, a gente tem que repor essas vitaminas ou por desnutrição mesmo.
A vitamina B12, por exemplo, que é uma vitamina bastante conhecida pelos veganos, também, se você não tem uma suplementação dela, você pode ter um prejuízo na formação dos seus neurotransmissores e isso pode levar a um quadro psiquiátrico difuso, como depressão, ansiedade, déficit de atenção. Então, é bem importante a gente saber se a pessoa está carenciada nesse sentido. O magnésio também, a falta dele pode gerar problemas psiquiátricos. Uma dieta pobre em ácidos graxos complexos, poliestaturados, como, por exemplo, os ômegas, que vêm de peixes, principalmente de oleogenosas, também a falta deles pode levar a uma diminuição da produção e da bainha protetora dos neurônios.
A neuroplasticidade pode ficar reduzida por conta da falta desse substrato. Então, é muito importante que as pessoas se alimentem de peixes, castanhas, e as pessoas veganas também façam reposição desses ômegas com óleo de linhaça ou outras substâncias, outros alimentos que possam trazer esse aporte necessário. Então, é sempre interessante e é bom pensar que os suplementos fazem parte do tratamento como um todo, não são a única possibilidade de tratamento, eles vão se associar às medicações, às atividades físicas, ao cuidado com a higiene, do sono, com a dieta, com a alimentação e hidratação adequada.
Quais alimentos prebióticos e probióticos podem impactar a saúde mental e de que maneira?
Os alimentos prebióticos são os alimentos que vão favorecer no nosso intestino a produção de substâncias que vão ser absorvidas e participar da produção dos nossos neurotransmissores ou dessas substâncias protetoras do nosso cérebro. É importante pensar que o estresse oxidativo, o envelhecimento das células, inclusive das células neuronais, ela é causada pelos radicais livres. Então, alimentos que reduzem a formação desses radicais livres podem ajudar muito também nesse processo.
Os problemas psiquiátricos não são devidos só à insuficiência na produção, na liberação de hormônios, eles também podem estar ligados ao envelhecimento precoce, à morte neuronal e a uma dificuldade da neuroplasticidade do novo crescimento dessas conexões entre os neurônios. E essas substâncias anti-inflamatórias ou antioxidantes, ou antioxidantes, podem ajudar nesse processo. A gente está falando aqui de uma gama de alimentos. Todos os alimentos com fibras, as verduras, as frutas, os alimentos de cor escura, de cor arrocheada.
A jabuticaba, a batata roxa, o feijão preto, o mirtilo, as frutas azuis, as frutas roxas escuras, porque elas têm antocianinas, que são antioxidantes naturais. Essas substâncias todas têm um efeito protetivo. E também não adianta a gente comer um outro dia, a gente tem que manter isso na nossa dieta com uma certa constância, para a gente se beneficiar disso. A alimentação, ao contrário, a alimentação inflamatória, a alimentação oxidativa, que é aquela com excesso de gorduras animais, excesso de glúten, excesso de produtos lácteos, por exemplo, são dietas que aumentam a inflamação intestinal.
Essa inflamação intestinal aumenta a produção de interleucinas e citocinas, que são substâncias inflamatórias. E o aumento da circulação dessas substâncias inflamatórias também atinge o cérebro e pode predispor ou prejudicar ou agravar quadros psiquiátricos. Então também é importante a gente cuidar disso e reduzir esse estresse inflamatório também. E os probióticos são as bactérias mesmas que produzem substâncias positivas, diminuem esse estado inflamatório intestinal. Então há uma gana enorme de probióticos. E alguns probióticos inclusive produzem serotonina, que é um hormônio ligado ao bem-estar, ao prazer, à satisfação. E ele pode ser produzido por bactérias. Tem duas bactérias, bifidobacteriologo e lactobacillus helvéticos que produzem esse hormônio no nosso intestino. Então além de reduzir o estado inflamatório, reduzir a produção de interleucinas e citocinas, aumenta a produção de serotonina.
Isso é bem interessante também a gente considerar isso no tratamento de problemas psiquiátricos e complementar o tratamento deles. De novo, às vezes isso pode ser suficiente, só uma mudança dietética, mudança dos probióticos e prebióticos, mas geralmente isso se faz em associação com outras estratégias terapêuticas, a psicoterapia, a atividade física, a qualidade do sono e o uso de medicações.
Fonte: Mulher