Suspender emendas dá 'autonomia desmedida' ao Executivo, diz Congresso

Por Verdade na Hora em 12/08/2024 às 10:51:40

O Congresso Nacional enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um recurso contra a suspensão das chamadas emendas Pix, afirmando que a medida confere "autonomia desmedida" ao Executivo no controle do Orçamento.

A suspensão das emendas Pix foi mantida na quinta-feira (8) pelo ministro Flavio Dino, do STF, horas antes do recurso feito em conjunto pela Câmara e Senado. A medida fora pedida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, para quem esse tipo emenda parlamentar não atende a requisitos mínimos de transparĂȘncia.

A representação jurídica do Congresso escreveu que a Constituição garante a divisão entre os Poderes na gestão do Orçamento. "A pretensão de subverter essa divisão constitucional, delegando ao Executivo uma autonomia desmedida sem a devida regulamentação legislativa, implica um atentado às determinações constitucionais que estruturam o Estado DemocrĂĄtico de Direito", diz o recurso.

O Congresso argumentou, ainda, que a interrupção da transferĂȘncia de recursos pode ter consequĂȘncias graves para o interesse público, interrompendo programas e a execução de obras, por exemplo, e causando "enorme insegurança jurídica".

TransferĂȘncia especial de recursos
As emendas Pix permitem a transferĂȘncia especial de recursos da União a estados e municípios por meio de indicação individual parlamentar, mas sem a necessidade de apresentação de projetos, indicação de programas contemplados ou celebração de convĂȘnios, ou seja, sem clareza sobre qual a real destinação dos recursos públicos.

Esse tipo de emenda ao Orçamento ganhou força depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu, em 2022, o que ficou conhecido como "Orçamento secreto" - a destinação de recursos dos cofres públicos por meio de emendas de relator do Orçamento, o que camuflava os verdadeiros padrinhos das transferĂȘncias.

Segundo a associação Contas Abertas, deputados e senadores destinaram R$ 6,7 bilhões em "emendas Pix" em 2023.

No recurso, os advogados do Congresso defenderam esse tipo de emenda, argumentando que, ao impor condicionantes para esse tipo de emenda, o ministro "desvirtua" a própria natureza das transferĂȘncias especiais, que estão previstas na Constituição e cujo objetivo é dar flexibilidade e autonomia a estados e municípios na utilização da verba pública.

O Congresso Nacional reconheceu a necessidade de dar maior rastreabilidade ao dinheiro público, mas defendeu que cabe ao Legislativo, e não ao JudiciĂĄrio, estabelecer tais critérios para o Orçamento do ano que vem.

Critérios
Na decisão dessa quinta-feira (8), o ministro FlĂĄvio Dino manteve critérios que jĂĄ havia determinado numa primeira decisão de 1Âș de agosto. Ele ordenou que as transferĂȘncias só podem ser realizadas se atendidos determinados critérios de rastreabilidade e transparĂȘncia.

No caso de verbas destinadas à ĂĄrea de Saúde, por exemplo, os valores só poderão ser executados após parecer favorĂĄvel das instâncias competentes do Sistema Único de Saúde (SUS), ordenou o ministro. Ele liberou somente a execução de emendas nos casos de obras em andamento e calamidade pública.

Numa outra decisão do dia 8, FlĂĄvio Dino determinou que o Congresso envie informações e documentos sobre as emendas de comissão (RP8), que também foram infladas desde que o Supremo vedou o Orçamento secreto por meio das emendas de relator, em 2022.

O recurso do Congresso afirma, ainda, que a suspensão das emendas Pix pode comprometer "a saúde, um setor que frequentemente exige respostas rĂĄpidas e flexíveis para atender às demandas emergentes da população, pode acabar sendo preterida devido às complicações adicionais impostas pelo novo requisito de planejamento e aprovação".

Fonte: Gazeta Digital

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