Feminicídio de Raquel Cattani, filha do deputado Gilberto Cattani, abala Mato Grosso
No dia 19 de julho de 2024, Mato Grosso foi abalado por um trágico crime de feminicídio. Raquel Cattani, de 42 anos, filha do deputado estadual Gilberto Cattani (PL), foi encontrada morta na zona rural de Nova Mutum, a 264 km de Cuiabá. A vítima foi brutalmente assassinada com 34 facadas, um crime de extrema violência que chocou a comunidade e o Estado.
Era uma manhã de sexta-feira, e o deputado Gilberto Cattani e sua esposa, percebendo a ausência de Raquel nas tarefas cotidianas da fazenda, decidiram ir até a residência dela. Ao chegarem à casa, encontraram Raquel sem vida, com diversos ferimentos pelo corpo. O impacto da morte deixou familiares e amigos devastados, e a polícia rapidamente iniciou as investigações para apurar os responsáveis.
Investigação inicial e reviravolta
No início, o ex-marido de Raquel, Romero Xavier, foi detido para prestar esclarecimentos. Ele estava no local do crime e afirmou que estava distante da vítima quando o crime ocorreu. No entanto, Romero foi liberado no mesmo dia após apresentar um álibi considerado consistente pela polícia. Embora tivesse demonstrado abalo emocional durante o sepultamento, chorando ao lado do caixão, a investigação seguiu, com a polícia desconfiança de que algo estava sendo encoberto.
Somente em 24 de julho, a polícia deu uma reviravolta no caso, quando Romero e seu irmão, Rodrigo Xavier, ex-cunhado de Raquel, foram presos por envolvimento no assassinato. Durante a perícia no local do crime, a Polícia Civil encontrou evidências que sugeriam que o assassinato havia sido armado para parecer um latrocínio, com o objetivo de desviar a atenção das verdadeiras motivações. A janela do quarto das crianças foi arrombada, e um televisor foi encontrado fora da casa, com pegadas suspeitas que levantaram questões sobre a veracidade da cena.
A trama por trás do crime
Ao aprofundar as investigações, a Polícia Civil descobriu que Romero tinha um comportamento possessivo e não aceitava o fim do relacionamento com Raquel. Durante o casamento, ele tinha se distanciado do irmão, Rodrigo, mas após o término do relacionamento, ambos reataram o contato e começaram a se encontrar com frequência.
Rodrigo Xavier, que tinha um histórico criminal de furtos e uso de drogas, foi identificado como o executor do crime. Quando a polícia tentou entrevistá-lo, ele inicialmente se esquivou, fornecendo versões inconsistentes. Quando finalmente foi localizado, em Lucas do Rio Verde, sua versão sobre estar morando em Cuiabá também levantou suspeitas. Ao ser interrogado, Rodrigo demonstrou grande nervosismo e, durante a entrevista, confessou o homicídio.
Na casa de Rodrigo, foram encontrados diversos objetos pertencentes à vítima, como um frasco de perfume, um aparelho de som, um cinto e uma faca, todos usados no assassinato. A confissão de Rodrigo revelou que o crime foi encomendado por seu irmão, Romero, que prometeu pagar-lhe R$ 4 mil pelo serviço. O plano de ambos era simular um latrocínio para confundir as investigações.
Planejamento frio e a execução do crime
Romero desempenhou um papel crucial no planejamento e execução do assassinato. Ele foi até o sítio onde Raquel morava e, estrategicamente, retirou os filhos do casal da residência para criar um álibi. Na tarde de 18 de julho, Romero reuniu algumas pessoas para um churrasco e, à noite, foi a três boates em Tapurah, com o objetivo de estabelecer sua presença na cidade e afastar qualquer suspeita sobre seu envolvimento no crime.
Na noite de 19 de julho, Rodrigo se escondeu nas proximidades do sítio e, ao avistar Raquel chegando, a atacou com uma faca, matando-a no local. Após o assassinato, ele roubou alguns objetos da casa e quebrou a televisão, deixando-a fora da residência para parecer que havia ocorrido um latrocínio. Em seguida, ele fugiu para Lucas do Rio Verde com a moto de Raquel, onde jogou a motocicleta, o celular e a faca em um rio para tentar apagar os vestígios do crime.
Prisões e acusações
Romero e Rodrigo Xavier Mengarde foram finalmente autuados pelo homicídio triplamente qualificado, devido à promessa de recompensa, feminicídio e emboscada, que dificultou a defesa da vítima. O delegado Guilherme Pompeo, que liderou a investigação, destacou a importância das evidências encontradas, como a pegada semelhante à bota de Rodrigo, que foi identificada na televisão encontrada fora da casa de Raquel.
O caso deixou a comunidade local e o Estado profundamente abalados, e o luto pela perda de Raquel, que era mãe de dois filhos e empresária, ainda é sentido por todos que a conheciam. A tragédia também trouxe à tona a violência doméstica e o feminicídio, que continuam sendo questões alarmantes em todo o Brasil.
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